Arte Museu Nacional da República e Funarte apresentam “O Teatro do Terror” A partir de 28 de setembro, o Museu Nacional da República recebe a mostra “O Teatro do Terror”, de Ismael Monticelli, que explora os eventos de 8 de janeiro de 2023, em diálogo com o futurismo, vanguarda artística do início do século XX com conexões ao fascismo. No Mezanino do Museu, Monticelli cria uma cena de combate que enfatiza a teatralidade e o caráter midiático da tentativa de golpe contra o Estado Democrático de Direito. Nesta instalação, a violência e a destruição se entrelaçam com a festa e a celebração, propondo uma reflexão sobre a complexidade desses acontecimentos. O projeto foi contemplado no edital Retomada – Artes Visuais 2023 da Funarte. A exposição fica em cartaz até no Mezanino do Museu até o dia 24 de novembro, com visitação de terça a domingo, das 9h às 18h30. A instalação de Monticelli ocupa os 30 metros de extensão do Mezanino do Museu Nacional e apresenta uma cena de conflito com figuras humanas em escala real, pintadas em tinta acrílica sobre caixas de papelão abertas e recortadas. Para criar essas figuras, o artista se apropriou do imaginário das obras do italiano Fortunato Depero, produzidas na década de 1920. Nesse período, Depero estava alinhado ao programa estético e ideológico do futurismo, criando imagens que exploravam o tema da guerra e do combate. Em uma obra em particular, intitulada Guerra = Festa (1925), Depero retratou em tapeçaria uma cena da Primeira Guerra Mundial. No entanto, ao contrário das expectativas de truculência e sanguinolência, a imagem esconde a violência sob um véu alegre e lúdico, sugerido pela profusão de cores e formas na composição. É na fronteira entre a violência e o jogo que se situa Guerra = Festa, onde Depero retratou o conflito como um grande espetáculo, uma celebração, num motim de formas e cores, alinhando-se completamente ao programa futurista de “glorificar a guerra” como uma força capaz de “curar e purificar” a sociedade. As obras de Depero desse período parecem ressoar com os eventos de 8 de janeiro, que transformaram a violência e a destruição em um jogo festivo, um ‘turismo da violência’. Nos grupos de WhatsApp organizados para planejar a ação, os organizadores utilizavam uma mensagem em código para sinalizar a ocupação da Esplanada dos Ministérios, referindo-se ao evento como um “dia de festa”. A senha escolhida foi “Festa da Selma” (em alusão ao grito militar “Selva”). Ismael Monticelli Monticelli escolheu o papelão como material principal para sua instalação não apenas por suas propriedades físicas, mas também por sua história simbólica. Durante as Guerras Mundiais, o papelão desempenhou um papel crucial em diversas aplicações militares, como na fabricação de capacetes, contêineres de armazenamento e até embarcações. Devido à necessidade de redirecionar metais para o esforço de guerra, muitos itens cotidianos, que antes eram feitos de lata, chumbo e ferro fundido, passaram a ser produzidos em papelão. Outra questão crucial da escolha do material é sua precariedade. “A instalação, que tem frontalidade evidente, utiliza o mezanino do Museu Nacional como um palco teatral desprovido de sua caixa cênica, expondo a fragilidade que sustenta o conflito retratado na parte frontal. Ao observar a obra por trás, revela-se uma paisagem de silhuetas de papelão, com as bordas borradas pela tinta e sustentadas por blocos de concreto. Essa cenografia se desnuda, revelando suas próprias entranhas e ressaltando a vulnerabilidade inerente à materialidade e à narrativa que compõe”, ressalta o artista. Um dos principais procedimentos artísticos de Ismael Monticelli é repensar imagens, histórias e narrativas estabelecidas, reorganizando-as ao confrontá-las com questões atuais. Em O Teatro do Terror, o artista revisita os eventos de 8 de janeiro à luz de uma das vanguardas do início do século XX – o futurismo. “Uma das primeiras perguntas que me fiz foi: como abordar esse acontecimento com uma estética e um programa ideológico que se alinhem a ele? O futurismo me pareceu uma forma de pensar as invasões em Brasília, especialmente porque tanto essa vanguarda quanto o 8 de janeiro parecem compartilhar uma ânsia pela destruição de tudo”, diz o artista. Facebook Comments Redação Compartilhar AnteriorJoaquin Phoenix elogia Lady Gaga por atuação no novo filme do Coringa PróximoHidden encerra temporada com exposição "Obrigado, Bahia" de Bruno Stuckert 19/09/2024